Tuesday 27 March 2007

a hora do chá

haverá alguma hora ideal para se tomar chá? britanicamente falando, poderíamos pensar que sim. mas a deliciosa possibilidade de aquecer a alma com a quentura do sabor dessa maravilhosa poção mágica deixa de parte qualquer hesitação e qualquer formalismo.

à parte as cerimónias encantadoras que se lhe associam, a preparação de um chá ou de uma infusão desperta, por si mesma, a côncava espera dos sentidos, a tranquila sensação de que a simplicidade reside na feliz essência de um detalhe escondido numa chávena de chá. com ou sem biscoitos. com ou sem segredos. com ou sem canetas prateadas guardadas pelo tempo que tecem, agora e novamente, as mais insuspeitáveis promessas...

assim sendo... haverá alguma hora ideal para se preparar (entre com sonhos e histórias tecidas de sabores escondidos), saborear e anoitecer com um chá?...

imagens de Karine Daisay

Monday 26 March 2007

A cor do tempo

"O convento tinha a forma de uma margarida. Desprendendo-se de uma torre cilíndrica, cada cela formava uma pétala. Entre uma e outra cela, no pouco espaço de muro da torre que permanecia descoberto, havia uma fenda, fechada por um vitral colorido. Conforme a deslocação do sol em redor do convento, no interior do quarto cilínrico, havia uma luz com a cor que jorrava do vitral que protegia a fenda atingida pelos raios de sol. Se a luz era azul era meio-dia, cor de laranja era já hora da ceia e assim para todas as outras horas do dia. De noite, a lua substituía o sol. No Inverno, com o céu encoberto, os monges passavam dias e dias sem saber a hora exacta e eram felizes, porque as suas vidas caminhavam de modo desordenado, especialmente no momento do encontro para o canto nocturno. Ou o levantar era demasiado cedo ou demasiado tarde e cada um acabava, assim, por cantar sozinho e os outros depois ou antes dele. Os cânticos solitários inundavam o céu até ao amanhecer."

Tonino Guerra, "Histórias para uma Noite de Calmaria".


(uma pequena história para ti,
margarida recente do meu novo jardim,
por navegares ao meu lado pelo meio do mar,
por adormeceres com histórias daquelas que se contam no silêncio das noites que se seguem aos segredos e por seres sorriso-pétala-ternura onde eu pouso as minhas pintas de joaninha!
sem ti, como seria eu joaninha?
e quem me faria o que me ensinaste que se faz às joaninhas?...)

Saturday 24 March 2007

Uma caixa para guardar ou soltar sonhos perdidos


Círcolo, Cecilia Afonso Esteves


As caixas de papel são objectos discretamente valiosos que podem ser muitos úteis no dia-a-dia. Quem nunca precisou de guardar um sonho que não tinha mais onde pousar, ou mesmo uma meia dúzia de pares de meias-coisas que andavam espalhadas por todo o lado sem pertencerem a lado nenhum (nem o esquerdo, nem o direito, nem o de cima, nem o de baixo, nem o da frente, nem o de trás...) ? Não vejo dedos no ar, por isso acredito que uma caixa de papel como esta vos possa fazer jeito. Encontrei-a num sítio mágico. Quando souber colocar links neste sítio-meu-bebé, deixo aqui um atalho para poderem viajar por lá também! (É que é mesmo de encantar!)

Friday 23 March 2007

Carla Bruni - Quelqu'un m'a dit

(merci, mon amour!)

"ilustrações", procuram-se!

O dia, hoje, acorda com um pequeno desafio: fios de lápis, palavras de papel, flores de tecido, asas de tintas e cores distintas, tudo é benvindo para dar forma, aqui, a esta história. ou melhor, a estas duas histórias, uma pequena e uma ainda maispequena que se cruzam, entrelinham e entrelaçam. na verdade são uma só. pois. com duas caras, duas cores, dois sabores de dois nomes que se misturam. porque eu gosto de brincar com palavras e comer sopas de letras... e gostava de ter as vossas cores neste meu menu. aqui, digo. neste sítio sem lugar, só para encher de cores um pedacinho deste meu mar. alguém se atreve a começar? a partilhar? basta deixarem aqui uma pista. eu sigo-vos, depois. e, desde já, obgrigada!
então, cá vai:



O rol do caracol

Era uma vez um caracol que vivia de perguntar. O seu cardápio de perguntas era imenso: onde moravam as flores antes de nascerem, de que era feito o canto dos melros, quantas princesas existiam na Austrália, a que cheiravam as asas das fadas no Norte, quanto pesava uma mensagem numa garrafa, que tipo de peixes apanhavam as redes de caminhos-de-ferro, enfim, o rol era inesgotável!
É claro que, para encontrar respostas para as perguntas mais difíceis, às vezes era preciso viajar até muito longe. E de tanto mundo calcorrear, o caracol que vivia de perguntar não tinha outro remédio senão levar às costas não uma casa, como qualquer outro caracol, mas um quarteirão inteiro.
Assim, levava sempre consigo: o gato cinzento da janela da casa amarela; os dois primos em primeiro grau que jogavam à bola e tiravam macacos do nariz; a senhora dona Ignácia que, todas as tardes às cinco em ponto – impreterível e independentemente do fuso horário – servia um chá de pétalas de papoila egípcia com biscoitos de mel e hortelã-pimenta a acompanhar; um canteiro de flores pequenas e desconhecidas que regava dia sim, dia não; e um projector de filmes antigos para as tardes de chuva mais longas.
Como o caracol vivia de perguntar, sempre que sentia um rato a roer-lhe a barriga com fome de novas respostas, empreendia uma nova aventura por esse grande mundo afora, em busca de saciar a sua curiosidade.
Ele, o gato cinzento, os dois primos em primeiro grau, a senhora dona Ignácia, o canteiro de flores pequenas e desconhecidas e o projector de filmes antigos.
Por sorte, ainda lhe faltava muito caminho por percorrer e de fome não morreria certamente.


A menina lilás

Era uma vez a menina lilás que andava a passear pelos Açores. Encontrou um caracol e perguntou-lhe: “Tu não és o caracol do rol?”

a primeira já chegou! da Filipa Crespo:

(obrigada, filipa! é um encanto! )

mais uma surpresa!
a senhora dona Ignácia, na hora do chá...

(filipa... nem sei o que dizer... que linda!)

Thursday 22 March 2007

"j'ai seul la clef de cette parade sauvage" Rimbaud


imagem de Sanna Annukka (trabalhada)

Wednesday 21 March 2007

A primavera chega com sol e poesia


(Sete Cidades, S. Miguel)



Haiku

Sorrisos em flor
De poesia e mel
Numa lagoa







Tuesday 20 March 2007

The Man I Love


Gustav Klimt, The Tree of Life - Stoclet Frieze Poster

When the mellow moon begins to beam,
Ev'ry night I dream a little dream,
And of course Prince Charming is the theme,
The he for me.

Although I realize as well as you
It is seldom that a dream comes true,
To me it's clear
That he'll appear.

Someday he'll come along
The man I love
And he'll be big and strong
The man I Love
And when he comes my way
I'll do my best to make him stay

He'll look at me and smile
I'll understand
And in a little while
He'll take my hand
And though it seems absurd
I know we both won't say a word

Maybe I shall meet him Sunday
Maybe Monday
Maybe not
Still I'm sure to meet him one day
Maybe Tuesday
Will be my good news day

He'll build a little home
Just meant for two
From which I'd never roam
Who would, would you?
And so all else above
I'm waiting for the man I love

Written by George Gershwin & Ira Gershwin(c) 1924

Sunday 18 March 2007

Uma escada para o infinito...


Ladder by Lena Bartula


Saturday 17 March 2007

Shadows and Light


imagem de Joe Taruda


"Shadow is a colour as light is, but less brilliant;
light and shadow are only the relation of two tones."

Paul Cezanne

Friday 16 March 2007

Abraços Grátis


fotografia de Fábio Arruda

Os abraços grátis andam espalhados por todo o mundo e, esta manhã, apanharam-me de surpresa. Não pude deixar de me misturar também...

Assim, como qualquer discreto milagre, apareceram diante do meu olhar (satisfeito de cantos barrocos preparados ao amanhecer) sete pedaços de papel gigantes a voar, pelo ar, agarrados às mãos de pessoas que anunciavam essa forma de magia que eu pensava ter-me passado ao lado sem poder deixar de ser passado: Abraços Grátis!
Abraços grátis em plenas ruas de Ponta Delgada à espera de serem colhidos.
Ensimesmada e sem hesitar, esvoacei (com os pés totalmente levantados do chão) até dar por mim embrulhada em dois braços desconhecidos e sorridentes. E depois outra vez. E outra. E mais uma. E fiquei, eu também, presa no vôo da mistura e do calor e da esperança e das danças e das palavras improvisadas que se guardam no silêncio das esquinas. assim nascia, a cada novo olhar, uma nova flor de ternura e de surpresa e de timidez e de deslumbramento de dissolver tristezas e abrir mais um (so) riso.
Foi inebriante, inexplicável e altamente partilhável.
Que deliciosa é a vertiginosa instância de deixar as asas livres ao som do vento! e abraçar-correr-tilintar-sorver-reencantar-engrandecer! E grande ser (!) com o coração a transbordar de Amor e de imensidão pelo corpo afora!

(Juan Mann iniciou o movimento "Free hugs" ou "Abraços Grátis". Escreveu esta frase num cartaz e levantava-o nas ruas mais movimentadas de Sidney)

http://www.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4

Thursday 15 March 2007

Ode à sublime pêra


Pera numero Uno by Josef Codina


Pêra amar-vos com tal fulgor
em meu pobre coração
devíeis ser um príncipe sem nome
de um reino desconhecido
e alheio aos demais.

Pêra guardar-se em vós
o meu pensamento cristalizado e reflorido
ter-me-íeis trazido uma rosa.
Não, uma outra flor
também sem nome.
A mais ínfima e maravilhosa das flores
com os vossos desejos pincelados em cada pétala.

Pêra levardes o meu coração
bordado num lenço de mão
teríeis de chegar num cavalo
feito da cor dos vinhos quentes de inverno
e dele desceríeis
para coser ao meu o vosso coração.

Pêra amar-me também,
abriríeis as asas sem fim
com que abraçais o mundo
e eu voaria também
até ao mais alto dos céus,
pêra em vós me enlaçar e me prender
até chegar à maior das liberdades
e ser livre até morrer.

i. (18.Fev)

Tuesday 13 March 2007

se eu fosse flor...











...seria assim.


olha a lua partida ao meio
de tão baixinha que está
quase leva as copas das árvores
e o cabelo dos homens altos.
se eu fosse muito guloso
comia esta lua em forma de queijo.
olha a nuvem, a nuvem branca
quer tapar o nosso queijo
nuvem gorda e sem vergonha
invejosa da luz da lua.
tu já viu que esta noite não tem vento?
olha a lua partida ao meio
se eu pudesse sentava nela
e ficava espiando a terra
e me via olhando ela!

Maria João e Mário Laginha

"Fogo"

Monday 12 March 2007

Kiwi!


...para voar até ao infinito......

Friday 9 March 2007

"the truth is rarely pure and never simple" (Sara Fanelli)

"Há exercícios para treinar a verdade como, por exemplo, ter medo. Ou então ter fome. Depois restam exercícios para treinar a mentira: todos os grupos são isto, e todos os negócios. Estar apaixonado é outra forma de exercitar a verdade."

Gonçalo M. Tavares, "Um Homem: Klaus Klump"

Thursday 8 March 2007

Thursday 1 March 2007

eclipse total da lua



pois é, vamos ter o prazer de ver a nossa dona lua a pintar-se de vermelho (se o céu não se encher de nuvens) no próximo sábado, 3 de março, às 23:21. Há um eclipse total da lua visível em todo o país. Aproveitemos para soltar as asas ao vento nocturno, as paixões, os amores perdidos, os sopros de vida que anseiam por navegar por toda a alma... É verdade que a dona lua também dorme... mas nesse mágico ritual, em que a sombra da terra se confunde com a sua luz branca e cheia de sol, não poderá ela estar senão bem acordada!

Bom eclipse!