Monday 4 August 2008

Cabril

Esta noite sonhei que era um rio. Um rio pequenino, é certo, que nada mais conhecia além das montanhas onde nascia, dos amieiros e dos juncos que nele se debruçavam. Como todos os rios, o que eu mais ardentemente desejava era desaguar. Comecei a perguntar onde ficava o mar, mas ninguém me sabia responder. Apontavam-me com um gesto vago ora o este ora o oeste. Escolhera já a forma de desaguar - em delta, claro - mas não recolhera ainda o menor indício da proximidade do mar. Uma noite em que estava acampado entre as dunas cheguei finalmente a uma conclusão (a mesma a que todos os rios chegaram talvez antes de mim): o mar não existia.

(E essa conclusão era salgada.)

Jorge de Sousa Braga

(ilustração de Patrícia Metola)

5 comments:

Kael Kasabian said...

Lindo!!!!!!todo este blogger é maravilhoso,abraços!!!

João Vilnei said...
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Anonymous said...

sensacional.
as conclusões salgadas são das mais temperadas a que podemos chegar.

Ricardo Pulido Valente said...

lindo:)

AFRÂNIOAFRA AMOR, POESIAS E SEUS CONTOS PINTO said...

MUITO..SENSÍVEL..BONITO..
AFRA...NITERÓI-RJ.