Thursday 25 June 2009

cinco mangas

Oito da noite (aqui os dias não são tão longos como em casa). Oito e pico. Ilha de Santiago, cidade da Praia. Café Sofia: esplanada. O computador ligado em cima da mesa absorve quase toda a minha atenção quando, de repente, sinto uma mão pequenina a puxar-me o vestido. “temos fome!” diz a porta-voz de quarto meninas de pele negra, negra, negra. Olho para cada uma delas. Uma ainda é bebé de fralda. Sorrio e digo: “não tenho dinheiro mas tenho mangas… querem?”. Abrem-se sorrisos e iluminam-se os olhos de todas elas. “Sim, sim!!!” A bebé faz que sim com a cabeça. Dou uma manga a cada uma. Agradecem e correm de volta para as brincadeiras, junto às mães que vendem pequenezas na praça. Passados poucos minutos, arrumam as coisas e vão embora. Todas elas me acenam, de mangas na boca, e sorriem. E eu sorrio de volta e digo “até amanhã!”.

E o sorriso não se desfaz. Porque a beleza está nos pequenos segredos, nas pequenas histórias, no imbatível encanto da simplicidade. Porque quarto meninas de pele negra, negra, negra deixam-me uma manga para eu comer também.

Sunday 14 June 2009

Doroty e Semedo




Quando as palavras parecem pouco, costura-se a poesia 
à alma com asas doces e guitarra romântica. 

Friday 12 June 2009

Dia dos Namorados


Aqui, os dias especiais são a dobrar...

(ilustração de Ana Oliveira)

Tuesday 9 June 2009

Procurando Camões

Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.

Luís Vaz de Camões

(ilustração de fonte desconhecida)

Thursday 4 June 2009

"Não se perdeu nenhuma coisa em mim"


Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.

Sophia de Mello Breyner Andresen

(ilustração de Rachel Caiano)