Monday, 26 February 2007

a manhã chegou mais verde...

o dia amanheceu com um sorriso mais rico e mais luminoso que os demais. a surpresa de ter duas mãos verdes e minúsculas a espreguiçarem-se em direcção ao meu olhar preencheu o meu despertar com todas as cores do mundo que se guardam dentro da alma. a primeira já chegou , tímida e curiosa. dizem que as flores gostam que cantem para elas. eu gosto de cantar para elas. talvez por isso o tempo tenha passado mais rápido do que nos queria parecer e o primeiro dia das novas surpresas-sementes de uma nova vida já se fez amanhecer... (obrigada, dora! fizeste-me sorrir por dentro! - neste jardim pequenino que tem um pouco de ti nas suas raízes e noutros que ainda estão por descobrir...) ...os rituais são sagrados, dizem... este, para mim, tem sido... novas sementes, novas flores, novas cores, novos sorrisos... e que o riso nunca acabe!

Monday, 19 February 2007

...para voar até ao infinito...


imagem de Catia Chien

Sunday, 18 February 2007

um jardim para mim

esta noite, as flores do meu jardim começaram a preparar o momento de despertarem para o mundo, lá fora. o instante surgiu de madrugada, com um mar de chuva do outro lado da janela.
aconcheguei-as na terra molhada que as esperava. cantei para elas uma canção de embalar e deixei-as adormecerem no seu mundo pequenino de semente-quase-flor. espero por elas, desde esse instante. espero com aquela ternura quente de quem confia no dia-surpresa em que cada uma delas espreitará e desenhará, neste meu jardim que veio de longe, o sorriso quase-mais-lindo-do-mundo. porque o sorriso-flor mais lindo do mundo é outro... é outro segredo...

imagem de Camilla Engman (trabalhada)

Sunday, 11 February 2007

"...e se tu fosses..."

.

um fruto


uma cor

um sabor

uma flor

o que ser(ias) ?

.

Thursday, 8 February 2007

El Árbol Rojo

"Os livros têm vida própria"
(disse...)

uns escondem-se...

outros encontram-nos.
pois.

(de Shaun Tan)

Wednesday, 7 February 2007

"Princesas olvidadas y desconocidas"

"Quando esqueço alguma coisa, é porque uma ideia joga às escondidas dentro de mim."

...um baú mágico cheio de segredos por desvendar...

("Los secretos están encerrados y su único deseo es escapar")

um livro de Philippe Lechermeier e
Rébecca Dautremer

Saturday, 3 February 2007

respir-ar



imagem de Catia Chien ("whale")

os gémeos



era uma vez uns gémeos que não eram iguais. tinham pele cor de terra molhada, e vestiam fitas verdes, como azeitonas mediterrânicas, com um nó em cada ponta. andavam sempre um ao lado do outro. e andavam muito! vinham do kenia, dizia-se por ali... eram verdadeiramente inseparáveis, os gémeos que não eram iguais. dizem também que é mais fácil encontrá-los ao cair da tarde. isso não sei. mas se algum dia os vir, digo-vos. de certeza!

sol de inverno

o livro não conheço, ainda.
mas sinto-me na lua, sim, de cada vez que me entra um pedaço de sol de inverno pela pele, pela roupa, pela fortaleza gorro-casaco-cachecol.
é como beber um chá de canela e especiarias para aquecer a alma por dentro.
o sol de inverno... e o frio fica lá fora... longe do coração, a pincelar de cor-de-morango a brancura das maçãs do rosto.
um dia, quando crescer, farei um cobertor de sol de inverno para as tardes de chuva ao pé do lume.

Hemos perdido aún este crepúsculo


imagem de Raúl Alexandre

Hemos perdido aún este crepúsculo.

Nadie nos vio esta tarde con las manos unidas
mientras la noche azul caía sobre el mundo.

He visto desde mi ventana
la fiesta del poniente en los cerros lejanos.

A veces como una moneda
se encendía un pedazo de sol entre mis manos.

Yo te recordaba con el alma apretada
de esa tristeza que tú me conoces.

Entonces, dónde estabas?
Entre qué gentes?
Diciendo qué palabras?
Por qué se me vendrá todo el amor de golpe
cuando me siento triste, y te siento lejana?

Cayó el libro que siempre se toma en el crepúsculo,
y como un perro herido rodó a mis pies mi capa.

Siempre, siempre te alejas en las tardes
hacia donde el crepúsculo corre borrando estatuas.

Pablo Neruda, Veinte Poemas de Amor y una Canción Desesperada.

Il pleure dans mon coeur



imagem de Gustafve Caillebotte

Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la ville ;
Quelle est cette langueur
Qui pénètre mon coeur ?

Ô bruit doux de la pluie
Par terre et sur les toits !
Pour un coeur qui s'ennuie,
Ô le chant de la pluie !

Il pleure sans raison
Dans ce coeur qui s'écoeure.
Quoi ! nulle trahison ?...
Ce deuil est sans raison.

C'est bien la pire peine
De ne savoir pourquoi
Sans amour et sans haine
Mon coeur a tant de peine !

Paul Verlaine

Thursday, 1 February 2007

Era uma vez a loucura
Vestida de amarelo.
Nos pés levava flores azuis.
Não! Eram roxas.
E pisava uma espécie de chão
(porque há chãos de muitas espécies)
que parecia cor de erva crescida.
Não a vi muitas vezes
ao longo da espera apressada.
Mas ainda hoje a escuto
da boca dos patos e das gaivotas.
E, se escutar com atenção,
quase lhe percebo as palavras
que não são de literatura
mas de suspiros quentes e papagaios ao vento.
A loucura sabe que alguém a escuta.
Por isso não morre.
Porque se alimenta desses alguéns
que alentam a alma com o entardecer.

30 de outubro de 2002