Wednesday, 12 March 2008

"espelho meu, espelho meu"



Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino

Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule

Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos

Para que a sua espinha fosse tão direita

E ela usasse a cabeça tão erguida

Com uma tão simples claridade sobre a testa

Foram necessárias sucessivas gerações de escravos

De corpo dobrado e grossas mãos pacientes

Servindo sucessivas gerações de príncipes

Ainda um pouco toscos e grosseiros

Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente

Para que ela fosse aquela perfeição

Solitária exilada sem destino


Sophia de Mello Breyner Andresen

2 comments:

Inês Rosa said...

:) Que bonito :) De verdade... Mas continua a ser uma princesa, frágil, é certo, mas uma princesa...

Beijicos

Anonymous said...

=-*
é a princesa mais princesística "do´mundo"