Esta noite sonhei que era um rio. Um rio pequenino, é certo, que nada mais conhecia além das montanhas onde nascia, dos amieiros e dos juncos que nele se debruçavam. Como todos os rios, o que eu mais ardentemente desejava era desaguar. Comecei a perguntar onde ficava o mar, mas ninguém me sabia responder. Apontavam-me com um gesto vago ora o este ora o oeste. Escolhera já a forma de desaguar - em delta, claro - mas não recolhera ainda o menor indício da proximidade do mar. Uma noite em que estava acampado entre as dunas cheguei finalmente a uma conclusão (a mesma a que todos os rios chegaram talvez antes de mim): o mar não existia.
(E essa conclusão era salgada.)
Jorge de Sousa Braga
(ilustração de Patrícia Metola)
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
5 comments:
Lindo!!!!!!todo este blogger é maravilhoso,abraços!!!
sensacional.
as conclusões salgadas são das mais temperadas a que podemos chegar.
lindo:)
MUITO..SENSÍVEL..BONITO..
AFRA...NITERÓI-RJ.
Post a Comment